"Era uma noite deliciosa, em que o corpo todo é um sentido só, e absorve prazer por todos os poros. Vou e volto em estranha liberdade na Natureza, uma grande parte dela mesma.
Quando percorro a margem pedregosa do lago em mangas de camisa, embora esteja frio, nublado e ventoso e não veja nada de especial que me atraia, sinto uma invulgar afinidade com todos os elementos. As rãs-touro trombeteiam anunciando a noite, e o vento ondulante que vem das águas traz o canto do notibó.
A harmonia com as folhas adejantes do choupo e do amieiro quase me tira a respiração; porêm, como o lago, a minha serenidade se ondula, mas não se encrespa. Essas pequenas ondas levantadas pelo vento noturno estão tão distantes de um temporal quanto a lisa superfície cristalina.
Agora está escuro, mas o vento ainda sopra e ruge na mata, as ondas ainda quebram, e algumas criaturas embalam as demais com suas melodias.
O repouso nunca é completo.
Os animais mais ariscos não repousam e agora procuram suas presas; a raposa e a jaritataca e o coelho agora percorrem os campos e as matas sem medo. São os vigias da Natureza - elos que conectam os dias da vida animada."
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Trecho do livro "Walden"
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Henry David Thoreau